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domingo, 19 de setembro de 2010

Um Documentário Proibido

"Cidadão Kane” (Citizen Kane) de Orson Wells, drama ficcional lançado em 1941 nos Estados Unidos, conta a história de Charles Foster Kane, sua ascensão ao topo do poder midiático da época. O filme é uma “copilação” de criticas às formas como o jornalistas da época agiam. Já o documentário “Muito Além do Cidadão Kane” (Beyond Citizen Kane) fala da ascensão de Roberto Marinho e das TV e Rede Globo no Brasil.
O documentário foi produzido em 1993 e trás um série de entrevistas com personalidades e ex-jornalistas da emissora do “PlinPlin”. Atualmente os direitos de exibição no Brasil estão com a Record, mas a origem do filme deixa várias dúvidas. Especula-se que a produção tenha sido feita pela BBC de Londres, mas quem o fez foi a produtora independente Large Door para o Channel 4, também londrino. Essa foi uma tentativa de dar ao filme mais credibilidade e respaldo, quem começou e quando não se sabe, mas o diretor Simon Hartog não tinha nenhum vinculo com a BBC.
Durante os primeiros anos ele foi difundido no Brasil em VHS com uma dublagem de péssima qualidade. Tornou-se popular em várias universidades do país e entre movimentos de luta popular é considerado simbolo de luta contra o poder. Mesmo com essa divulgação a popularização do filme se deu na década de 2000 por meio da internet. Atualmente ele pode ser facilmente encontrado para download na rede.
“Muito Além...”, assim como o livro “A História Secreta da Rede Globo” de Daniel Heiz, mostra o crescimento do poder da emissora do sr. Marinho. São criticas claras aos envolvimentos e ligações políticas dos donos e das emissoras com os altos cargos de vários governos, coisa que era comum na época da chegada da TV no Brasil. O melhor exemplo desse envolvimento questionável ética e moralmente é Assis Chateaubriand, ou Chatô como ficou conhecido, o homem responsável pela criação da antiga TV Tupi e dono de inúmeros veículos de comunicação pelo país, vivia entre os corredores do governo, como mostra o livro “Chatô, o Rei do Brasil” de Fernando Morais.
Políticos como Leonel Brizola, Antonio Carlos Magalhães e Luiz Inácio Lula da Silva (ainda como sindicalista) dão depoimentos no filme sobre o sr. Marinho e sua emissora. Chico Buarque, Washington Oliveto, Armando Nogueira e outros também contam como a Globo manipulou várias vezes a informação. O caso mais gritante foi o da edição do debate entre Lula e Collor, no qual o compacto final exibido no noticiário noturno favorecia claramente o segundo candidato, enquanto a exibição no telejornal vespertino do mesmo dia favoreceu o petista.
John Ellis, produtor e responsável pelo documentário após a morte de Hartog, afirmou em entrevista via e-mail à Folha em 2008 que o filme conta a história da ascensão e pondera que o mesmo deveria ser visto, pelo menos, por todos os estudantes de comunicação. Ele também questiona que o “Muito Além...” foi produzido para o público britânico, que desconheciam os acontecimentos locais, e que outras faces dessa história deveriam ser contadas para os brasileiros.
Um das lendas que circundam a produção é de que a justiça havia proibido a exibição no país. De fato isso é uma meia verdade. O documentário pode ser livremente exibido, mas sua vinculação em qualquer meio é vedada devido à utilização de imagens de programas Globais, como informou o próprio Ellis (Fola, 2008).
Artigo escrito para a disciplina Tecnologia e Linguagem dos Meios de Comunicação.

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